segunda-feira, 30 de julho de 2007

Você tem o seu "manual de não-me-toques" ?

Andei reparando como certas pessoas vêm com um "manual de não-me-toques"
O cabelo, a roupa, os óculos, e os modos. Tudo na pessoa parece transmitir essa necessidade de pacto não verbalizado de que você não a destruirá tocando nos assuntos que não devem ser tocados.
Para algumas pessoas, podem ser as críticas, para outras, elogios (sim, há os que têm medo de elogios).
Na verdade, acho que todo mundo têm o seu pequeno "manual de não-me-toques". Alguns têm um não tão pequeno compêndio amarrado ao pescoço (fazendo arcar a coluna), outros apenas carregando um livro de bolso.

Funciona assim: A pessoa entra na sala já incerta, respiração alterada, falando muito baixo, em seu tom balbuciante ou então muito alto.
Seu tom de voz é uma súplica (por entendimento, compreensão) ou um vozerio grosso para dominar o ambiente.
Tem também o jeito, o trejeito de andar, de dar a tragada no cigarro (não existe tragada no cigarro sem platéia), o olhar. Tudo estudado.

Interessante como as outras pessoas "obedecem" a mensagem. Recebem os sinais do mimado e passam a respeitar os "limites" imaginários da sua fragilidade.

Ninguém questiona seu comportamento. Ninguém elogia. Ninguém o lembra de suas responsabilidades. Ninguém faz "aquela pergunta" que está no ar - todos sabem qual é, mas ninguém a ousa.
Sem precisarmos quando aconteceu, parece que todos ascenderam ao pacto "eu não toco nas suas fragilidades, você não toca nas minhas."

De vez em quando, alguém que não entendeu muito bem a "história", em sua falta de traquejo social, solta uma frase que vai direto ao ponto, enfia o dedo na ferida aberta, quebra o pacto elaborado, tão seguro, que custou tanta energia: -"Seu trabalho é excelente, mas eu não gostei da cor que você escolheu". - De sopetão, dois "não-me-toques" dilacerados na mesma frase: Um ELOGIO e uma CRÍTICA.

E uma máscara tem que se rasgar para responder...

Murmúrio (silencioso) das pessoas em volta: "Como ele pode ser tão ousado?!"

Por Sandro Friedland

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